terça-feira, dezembro 26, 2006

26 de Dezembro de 2006


O Natal acabou ontem para muitos.
O regresso ao trabalho, o levantar cedo, o olhar constante para o relógio e as filas nos transportes, já são regra do dia.
As crianças, e os estudantes, ainda têem uns dias de descanso. Os mais novos aproveitam para brincar com as suas novas brincadeiras, os mais velhos para meditar onde irão no Reveillon.
Eu..., medito no futuro. Mas não no futuro de amanhã. O dia depois de amanhã, o que irei fazer agora quando terminar o curso, o que fazer, com quem fazer e onde o fazer. O trabalho não assusta quando é feito com gosto e/ou quando temos amigos e estes nos apoiam.
Com este pensamento, olho para o telemóvel.. Tanta gente, tanto número. Quase 500 contactos e destes, nem um vigésimo, serão meus amigos. Mas nesta época festiva, mandei mensagem a todos os que para mim são importantes. Gostaria de falar com todos, mas apenas alguns terão essa sorte. :) Porque a crise calha a todos..
Também recebi muitas mensagens, imensas. Todas muito simpáticas e bonitas. Típicas desta época festiva que nos aquece os corações... MAS.. apenas na véspera de Natal, eu soube quem era realmente meu amigo. Amigo não é aquele que manda mensagens por ser à borla. Se fosse mail, era spam... Amigo não é aquele que nos manda uma mensagem "padrão" igual à que manda para todos. Não. Amigo é aquele amigo, que se lembra de nós, e nos manda uma mensagem pessoal. Nos diz algo com sentimento puro e não se importa de gastar dinheiro na sms, para mostrar que não somos como os outros.
Por isso, as sms que mandei não foi no período das mensagens à borla. E aqui a publicidade da PT está perfeita. Porque conseguimos distinguir quem realmente gosta de nós e quem não se importa...

Cheguei à conclusão que tenho amigos, talvez não tantos como o vigésimo de 500 contactos mas ainda assim...bastantes. E por isso o meu Natal continuará presente até ao próximo Natal. Melhor que prendas, saber que temos muitos amigos é o melhor presente que o Natal nos traz. Estes duram, e estão sempre "presentes".

Que se lixe o Pai Natal. Velho gordo que não tem dinheiro para fazer a barba.. Viva o menino
Jesus, o Espírito, a Missa do Galo, a amizade e a bondade que há no mundo e que nesta altura nos faz sentir melhor connosco e com os outros. Fazer uma boa acção nesta época vale por duas, portanto mãos à obra.

Boas Festas e um Feliz Ano Novo de 2007


Tomás
Imagem: Direitos Reservados

quinta-feira, dezembro 07, 2006

O fogo que arde no Natal

Lá fora está frio, a chuva cai intermitentemente e o sol aparece escondido por entre as nuvens. Está o tempo ideal para ficar em casa, enrolado nos cobertores, moldar o corpo ao sofá e, com aquela magnífica invenção humana que é o comando, controlar o nosso mundo visual com um simples movimento do polegar. “Vamos acender a lareira”, ouve-se em uníssono pela sala de estar. Talvez não seja pior, até porque este frio é intenso e, como a lua nos vem visitar mais cedo do que nas outras alturas do ano, sabe sempre bem ter os pés descalços junto ao lume que nos abstrai das preocupações diárias.

A família reúne-se e, tal como na música de Paulo de Carvalho, todos os meninos brincam com os seus bonecos e bonecas, carros e puzzles. Inventam a sua liberdade e tentam, maioritariamente com sucesso, interferir na liberdade dos seus pais. “Quero este Action-Man, o Noddy e o seu carro amarelo e o Power-Ranger Azul!”, “Eu quero uma saia e umas sapatilhas da Floribella e um Nenuco que come sozinho!”. Quem já não ouviu estas palavras da boca “inocente” de uma criança? E os pais, meros comandos televisivos, invertem posições hierárquicas e são chefiados pelos mais pequenos que exigem e alcançam todos os seus objectivos. Claro que as crianças fazem-no de forma inconsciente, pois o seu mundo ainda não contempla responsabilidades económicas que mais tarde lhes causarão muitas dores de cabeça.

Mas a caixinha mágica, que nos tem proporcionado tantas alegrias e nos permite olhar e ver o mundo que nos rodeia também tem o seu lado menos correcto. A versão manipuladora da televisão (que sempre existiu e nunca deixará de existir) tem-se virado, nestes últimos anos, para a captação da atenção das crianças. De forma aparentemente inofensiva, as empresas publicitam até à exaustão os seus produtos através dos mais variados meios de comunicação, com especial relevo para a televisão. Antes e depois de um programa infantil com elevada audiência, durante o horário nobre, ou seja, sempre que é possível fazê-lo. Não quero estar a retirar o direito à publicidade destas empresas, antes pelo contrário, mas penso que chegámos a um ponto de saturação que tem feito com que o Natal perca todo o seu sentido (o nascimento de Jesus, independentemente para quem acredite ou não).

A Coca-Cola substituiu o menino Jesus pelo Pai Natal e inventou outras noções para o mesmo. A tónica baseada no Amor, Paz, Harmonia, Felicidade, União (e todos os outros conceitos que ninguém respeita na sua totalidade) desapareceram, dando lugar ao Euro, ao Cartão Visa, ao cheque (muitas vezes em branco, da cor da neve) que está ao alcance de todos, mesmo ao alcance daqueles que não têm possibilidades. Até a própria data é antecipada meses antes (sim, já havia enfeites de Natal no mês de Outubro!) para contribuir para este espírito de Amor Universal!

Lá fora continua frio, a chuva cai de forma mais intensa e o sol, que agora já deu lugar à lua, quando aparece, não é para todos. Talvez seja mesmo melhor acender a lareira e aquecer os pés descalços cansados de caminhar.

André Pereira
Imagem: Direitos Reservados